quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Dia-a-dia

"Há dias em que nos sentimos amedrontados com tudo, numa espécie de pressentimento. A pessoas que está sentada na mesa ao lado, pode não estar somente a tomar um café e a ler o jornal. A chuva que cai levemente e o vento ligeiro que se levanta, podem não ser uma consequência de fenómenos meteorológicos explicáveis. O cinzeiro colocado no centro da mesa redonda em que me encontro, pode não ser uma constante para a eventualidade de receber um fumador. O Automóvel preto estacionado mesmo na minha direcção, pode não ser um carro como tantos outros estacionados ao longo da rua. O cão que deambula solitário pelo passeio, e que para junto à janela olhando-me nos olhos, pode não ser somente um rafeiro vadio que procura um acolhedor em cada pessoa que lhe presta alguma atenção. O arrepio que sinto, sem qualquer motivo aparente, pode ser um sinal de que algo está para acontecer e tenho que estar preparado para não desfalecer em virtude de um choque proporcionado pela surpresa. Não consigo definir este pressentimento. Tenho medo. Um medo que se repete todos os dias. Chego ao fim de mais um dia e nada de especial me aconteceu. O medo permanece. Não foi hoje, será amanhã, ou depois. Aguardo...quem sabe, a minha morte." (Iesu, Janeiro 2010)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Somos livres

"Somos livres e apregoamos aos sete ventos essa liberdade. Decidimos e fazemos questão de mostrar que podemos decidir. E quem define os critérios para essa decisão? Somos nós. E vamos seguindo, por uma rota que nós traçámos e que não sabemos onde nos leva.
Á nossa volta, tudo muda e avança. As folhas caem das árvores, e aglomeram-se no manto triste que cobre o chão que vamos pisar. Andamos mais devagar, para evitar escorregadelas e males maiores. Somos mais cautelosos porque queremos. Havia outra hipótese? Havia. Só que não somos suficientemente insensatos para correr riscos desnecessários. Riscos com os quais não contávamos no início da caminhada, tal como não encaramos a possibilidade de estar a percorrer uma rua que não tem saída, ou cujo fim seja o precipício.
Deparamos com um sinal de sentido proibido. Não conseguimos ver mais nada, só o maldito sinal. Não somos obrigados a parar. Não somos obrigados a voltar para trás. Mas somos obrigados a decidir se queremos ou não fazer o que é proibido.
Se pensamos que a liberdade nos permite desobedecer a este sinal, estamos certos. Ela permite.
Podemos tudo. Todavia, parte desse "tudo" é punível ou pode determinar finais infelizes.
Quando nos preparamos para avançar, vemos algo mais. Um grande muro que não nos deixa avançar. Será a expressão da voz da consciência?" (Iesu, Janeiro 2010)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Tempo

"Ainda falta tanto tempo. Tempo esse que voa e que se esgota tão facilmente aos nossos olhos e nós nem conseguimos perceber exactamente como. Ao adiarmos porque consideramos que ainda temos muito tempo, estamos quase sempre a assinar uma sentença de incumprimento, ou de não realizar o que pretendemos na máxima força, ou com o resultado que teríamos capacidades de construir se não nos acomodássemos ao factor tempo.
Não tenho tempo. A frase mais ouvida nos dias que correm, e uma desculpa para camuflar a falta de coragem para dizer que na realidade não é uma das nossas prioridades. O que pudermos adiar, adiamos, nem que seja um adiamento para nunca mais. Há situações em que é o medo de falhar que nos leva a adiar, e não nos apercebemos que só nesse adiamento já estamos a cometer uma enorme falha.
Somos responsabilizados por aquilo que fazemos e também pelo que não fazemos. A crítica, o ataque pessoal, o recurso à comparação, o estabelecimento de critérios e graus de relevância, é uma actividade em crescimento. Com grande prioridade, não para o individuo se auto-analisar, mas sim para os outros que estão tão interessados na vida alheia que esquecem de viver a própria vida.
E o tempo vai passando. Uns desenvolvem, crescem, lutam. Outros acomodam-se a não ser nada, a não deixar o nome gravado em coisa nenhuma, a não ser na placa com a lista dos que pertencem ao grupo privado da ignorância." (Iesu, Janeiro de 2010)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Uma espécie de Robot.

"Naquele dia ela tinha expectativas elevadas, julgava que seria diferente, e conseguiria ver a sua vontade respeitada.
Não queria, só que faltava-lhe a coragem para dizer "Não!" e assim era impossível alguém suspeitar que estava a seguir um caminho que não queria, apenas por receio de perder o que nunca teve e nunca terá.
De um lado está a ilusão da recompensa por uma vida na sombra. Do outro, a certeza de que nunca terá uma identidade própria, sendo sempre associada à pessoa que a programa, como se faz a um robot. E se não funcionar correctamente, há sempre a possibilidade de uma pancada ou duas, para activar as ligações que possam estar inactivas, ou menos produtivas.
Porém, não é de um robot que falamos, mas sim de uma pessoa com sentimentos, que tem medo de lutar, de denunciar, de se afirmar num mundo cruel.
Ela não é a única. É mais uma. E vai continuar a ser." (Iesu, Janeiro 2010)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Luta interior

Sem ti eu posso
Eu sei que posso.
Melhor ou pior
Fácil ou difícil
Não há insubstituíveis
*
Apesar de ser diferente,
Eu sei que posso
Eu sei que devo
Eu sei que mereço
Eu sei que consigo
*
E vou lutar por ser
Não completamente
Não em todos os minutos
Não em todos os segundos
Não em todos os dias
*
Contigo
Sozinho
Seja com quem for
Eu vou ser...
FELIZ!
(Iesu, Dezembro 2009)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Quero Morrer.

"Naquele dia ela estava sozinha, tão sozinha que nem se sentia a si mesma. Era como se já não existisse, como um corpo privado da alma que lhe dá vida. Não sabia se era fruto da vontade de um qualquer Deus, ou a negação da própria existência.
Se lhe pedissem para viver, ela recusaria.
Se lhe pedissem para sonhar, ela recusaria.
Se lhe pedissem para falar, ela apenas diria: «Quero Morrer!».
Contra uma decisão destas é difícil arranjar argumentos válidos e o melhor é esperar que ela ponha a corda ao pescoço ou que se decida finalmente a tomar um rumo na vida.
Podíamos esperar sentados. Falta-lhe a coragem para viver, mas também para morrer. Vai apenas existindo, numa morte com todos os sinais vitais. Talvez ela acredite que alguém leve a cabo a tarefa de lhe proporcionar finalmente a morte que tanto anseia, e pela qual não tem forças para lutar, porque não é fácil morrer. Por mais que nos digam que a morte é o que temos mais certo, não significa que seja fácil alcançá-la.
Mais uma injustiça deste mundo. Esta criatura que quer morrer mas não tem coragem para construir a sua própria morte continua viva, e muitos que davam tudo para permanecer vivos, morrem antes de atingir a auto-realização. Como sou altruísta, não me importo de lhe ceder o meu lugar no inferno, ou no purgatório, ou no céu, ou apenas debaixo de terra a servir de alimento aos mais repugnantes seres da natureza, a seguir ao homem. Mas a verdade é esta, cada um vai na sua hora." (Iesu, Dezembro 2009)

Não sei.

"Não sei se digo. Não sei se penso. Não sei se faço. Não se escrevo. Simplesmente não sei. Se viver é não saber, eu vivo plenamente, e não me venham dizer que não mereço o dom da existência.
Não sei o que sou. Não sei quem sou. Não sei para onde vou. Não sei o que é esperado de mim. Simplesmente sei que estou aqui, e só por isso, já me sinto feliz. E o que é sentir-me feliz? Não sei mas sinto. Entre o saber e o sentir vai uma longa distância. Eu nunca soube, mas sinto.
A maior parte dos que por aí deambulam apenas sabe e nunca chega a sentir. Sou realmente um felizardo que não sabe nada e não quer saber nada. Quando sabemos, a nossa mente arrogante prende a sensibilidade e torna-nos apenas humanos, apenas corpos com a mania que são importantes e que acreditam que podem fazer mais do que os outros corpos importantes, que agem mecânicamente de acordo com o que a sociedade lhes impõe. E mesmo que não imponha nada, é sempre mais confortável fazer como os outros fazem." (Iesu, Dezembro 2009)